quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

último desejo
quando eu morrer
se minha família
me ignorar tanto
quanto ignora em vida
não doando meus orgãos
não cremando o que restar
nem lançando minhas
cinzas na privada
se eu for enterrado
não como indigente
que sempre fui em
nosso exílio de cada dia
imploro que meus amigos
e conhecidos enforquem
cartazes em minha
lápide, cruz ou gaveta
com epitáfios provisórios
repletos de absurdo
e sinceridade
e se estiverem com preguiça
ou morarem longe demais
escrevam na seda de seus
baseados e fumem minha
memória
e se pararem de fumar
enfiem esses epitáfios em envelopes
e abandonem nas caixinhas de correios
de qualquer igreja.

Ray Cruz

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