sábado, 25 de agosto de 2018

gênesis 22 21/04/2018. domingo. jorge alvo saiu do culto. pouco antes. recolheu o dízimo como de costume. comungou do corpo e do sangue do nazareno. pouco antes. pregou sobre a fé, as obras e a salvação. pouco antes. rericantasoriunamacantalabaxúria. glória a deus. pouco depois. seu pequeno filho de três anos. seu enteado de seis anos. seis não cinco. acho que seis mesmo. dormiam no quarto decorado com desenhos infantis norte-americanos. jorge alvo um dia antes de almoçar numa lanchonete com a mãe. jorge alvo chorou na entrevista. disse que eles morreram num incêncio que atingiu apenas o quarto decorado com desenhos infantis norte-americanos. jorge alvo os levou para seu quarto e trancou a porta. colocou diante do trono para tocar no último volume. e enfiou. ''eu só vejo a glória. '' com muita dificuldade no começo. com o tempo ficou cada vez mais fácil. e quase saiu e entrou. ''e percebo quão maravilhoso Ele é''. a cada estocada. mais rápido. menos apertado. ''e o tanto que Ele me quer.'' seu pau branco nos pequenos corpos brancos. eles gritaram. ''oh, ele me amou.'' eles choraram.'' oh ele me ama.'' até desmaiar. jorge alvo levou os pequenos corpos brancos até o quarto decorado com desenhos infantis norte-americanos, os colocou na cama e ateou fogo nos pequenos corpos brancos. fazendo com que os pequenos corpos brancos morressem com o calor do fogo. se bem me lembro queimou antes. antes não. brincar com comida é pecado. os pequenos corpos brancos continham fuligem na traqueia. o exame demonstrou que os pequenos corpos brancos ainda respiravam quando começou o incêndio no quarto decorado com desenhos infantis norte-americanos. no espírito santo o pastor descansou trancado no sétimo dia. amém. 28/04/2018
PORQUE SÓ HOJE CONSEGUI ACEITAR QUE SOU UM GÊNIO.
começaram ame chamar de gênio na quarta série. antes minha família soh me chamava de burro e idiota. aprendi a ler com seis anos, quase sete, assistindo televisão, quase sem querer. eu era viciado em televisão. programa do gugu.mãe aquilo ali é bola neh. eh pronto meu fih sabe ler, nem é tão burro o moleque. eba! na quarta série eu tive duas professoras maravilhosas. que me ensinaram o que reza o senso comum sobre racismo e a escrever poesia. acho que elas foram as primeiras pessoas na minha vida a injetar auto-estima em meu pequeno corpinho preto eternamente magro de pneumonia.enfim, muitos anos se passaram e mais discriminações e violências que os segundos que teceram tais anos. e várias outras pessoas me chamaram de gênio neste período. eu nunca acreditei nelas. primeiro; porque eu nunca acreditei em mim. segundo; porque desde cedo eu sempre tive a impressão de que 99% das pessoas ao meu redor eram mais burras que eu e soh por isso elas me achavam inteligente.
hoje ao acordar cedo, por causa da insônia, comecei a trabalhar, como venho fazendo diariamente desde que minha depressão se tornou hiperfuncional. como estou sem antidepressivos, porque novamente perdi a consulta com o psiquiatra despirocando, comecei a beber pouco depois de acordar, como venho fazendo desde que fiquei sem antidepressivos, então por volta das 10 horas da manhã, ainda trabalhando, comecei a sentir fortes náuseas. contrições estomacais. tontura. taquicardia. vertigem. lembrei das pessoas que me chamaram de gênio, e pensei vou postar; eh foda, ser um gênio e ainda si no conseguir se alimentar direito, soh pelo hábito de passar fome. ai pensei haha, como se eu fosse mesmo um gênio. é preciso duvidar de tudo neh.?. eu sou um gênio.?. ai lembrei do que eh ser um gênio segundo a sábia vozinha wikipedia. ai lembrei que aundo eu tava na quarta série comendo café com farinha, eu fiz um simulado de vestibular e fiquei em décimo nono, chutando a maior parte. as professoras queriam me passar pra uma turma do terceiro ano. ficavam me colocando pra dar aula pra quinta série e ensino médio. pastor me colocando pra pregar em igreja. ai deixei de ser nerd, como forma de reagir ao bullying. quando fiz o enem pela primeira vez chutei a maior parte das perguntas, passei e perdi a vaga porque vim pra ocids correndo pra trampar de servente com meu cunhado e esqueci os documentos na bahia. passei um ano trabalhando na construção civil e no alcoolismo. fiz a redação do enem virado,. passei de novo e tô cursando filosofia. desisti da escola no primeiro ano do ensino médio quando a biblioteca fechou. passei um ano na universidade sem ser aprovado em uma disciplina. primeiro semestre; fiquei sem teto fixo. segundo semestre; a apatia, a anedonia, a melancolia e a ansiedade me enclausuraram em casa. ai no terceiro virei o jogo. depois de um laudo psiquiátrico e dois trancamentos justificados, dois MS e um SS. e pensei. vai se fuder! holy shit! eu sou um gênio, inverti a pirâmide de Maslow cuzão! psiquiatra branco no meio do séc xx diz que para o ser humano saciar necessidades altas como auto-realizações e estima, eh necessário que antes ele tenha suas necessidades básicas supridas. ai no final do séc xx nasce eu e faço da minha vida a inversão dessa pirâmide branca de necessidades e desenvolvimento de aptidões. ai comecei a me lembrar de todos aqueles dias debaixo do sol escaldante do nordeste, quando eu ficava puxando cobra pro pé com a enxada, quando eu ficava rachando lenha, quando eu ficava empilhando lenha do meio no mato. mexendo concreto na enxada, descarregando caminhão de brita 0 etc e ao mesmo tempo compondo poemas, escrevendo romances na minha cabeça, parindo heterônimos, refletindo sobre a utilidade e o risco de todas as crenças, perscrutando as superficies do incompreensível, pensando como não ser soh mais um homem preto, idiota machista, homofóbico, infeliz e escravizado em um subemprego reificante, soh mais um traficante, torcedor do mengão, soh mais uma gaveta recheada da carne mais barata no IML. comecei a lembrar dos meus irmãos. comecei a lembrar da minha famía, comecei a lembrar dos colegas de escola. eu não trocaria minha vida pela de nenhum deles. muito menos meu cabedal e minha consciência. ai comecei a pensar no número de brancos burros, medíocres, vazios e infelizes que estudaram em escolas particulares como o marista e que conheci na unb. entre alunos e professores. eles deveriam beijar o chão onde piso, pagar pra me ouvir e não me olharem como olham os outros mendigos pretos, quando vou vender minhas arte pra eles. ai pensei fuck off, será mesmo? ai comecei a pensar. minhas obras.eu minha vida. minha obra. e tive que aceitar. com vinte e dois aninhos de idade, em pleno nacioeleitoral 2018 @3c. ray cruz, aceita que dói menos. vou ser o primeiro performer do mundo a performar sobre a estigmatização que sofrem os usuários de crack, essa grande mazelatabu da saúde pública... o primeiro a performar fumando crack. e mangueando ao mesmo tempo
cobrando reparação histórica e chamando os brancos de racistana universidade pública. tudo isso ainda gravando um curta experimental e com vários artistas pretos fodas comigo. aceita que dói menos. eu sou um meme. eu sou um gênio. e pensei. malditos colonizadores e descendentes de colonizadores! vou reverter essa opressão ai. que nem diz aquele rap. ''nascido pela cena pra matar a cena''. vou apagar as luzes. vou anoitecer. vou empretecer. vou obumbrar. vou destruir a cena branca de arte em bsb e depois nas terras tupiniquins. depois no mundo. depois no espaço. porque o espaço é preto. declaro guerra intelectual à branquitude. porque luto com pensamentos e sentimentos eternizados em matrizes de papel. plástico. vidro e concreto. comecei a desenhar deve ter uns 7 dias, tô mandando muito. comecei a pintar, comecei a vender zines, ser agente e curador de minhas migas artistas,comecei a performar, comecei a manguear.... tudo recentemente e tô arrasando. vou abrir uma galeria em breve. comecei a me lembrar quando as pessoas me chamam de Basquiat do cerrado ou quando dizem que lembro ele. quando a pessoa eh preta, penso em representatividade. quando a pessoa eh branca penso e as vezes falo. Basquiat deu dois passos. mostrou que eh possível ser um artista preto autodidata, pobrgrafiteiro e enricar vendendo arte. soh que o Basquiat ficou rodeado de branco, se drogando, sem tentar retornar ao orun. eu não me recordode muitos quadros do Basquiat em que o voduu aparece como arcabouço semiótico. não me recordo de nenhum na real. vou além. vou resgatar o conhecimento e a sabedoria dos meus ancestrais, que os brancos roubaram de mim com o epistêmicidio. vou atrás da grana que tiraram da Mama África. afinal, função do pobre eh se adiantar. laroyê seu capa preta, tranca rua e zé pilintra, livrai-me da tentação do suicídio.tô ligado que nem eu disse no via crucis, que todos somos sobreviventes até a hora da morte. mas sei que a cada 23 minutos as estatísticas procuram minha pele retinta. e sei que suicídio é que nem assalto ao banco central. nào eh salvação. eh tentação. nego vai passar a vida toda querendo fazer. soh não faz porque sabe que vai se fuder. livrai-me oh maria mulambo, maria padilha e rainha de lúcifer, livrai-me de ser suicidado pela sociedade. curai-me obaluaiê. atotô. laroyê Èsú, exu ejh mojubá. por esse oriki que vou ganhar o nobel para joga-lo no lixo, dar pra uma moradora de rua preta do terceiro mundo e queimar a grana. toda não, uma parte vai pra doações. por isso no dia que eu me sentar na cadeira da academia brasileira de letras, na minha cerimônia de filiação, alguns momentos antes, eu provavelmente já idoso também de corpo, como já faz um bom tempo que sou de alma, vou abrir um buraco na cadeira, posicionar um penico em baixo, arriar as calças e perguntar para meus comensais: eai branquelos velhos, que tipo de merda vocês costumam excrevivissecar nessas cadeiras pouco ergonômicas?
ai ai, como disse o Mano Brown, EU QUERO EH MAIS, EU QUERO ATÉ SUA ALMA!'' e tento predicar: EU QUERO EH TUDO!

MANIFEST of BLACK CREATIVE COMMONS:
[16h41 25/08/2018] ria ma: oii, é a Maria
[20h14 25/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: oi
[20h24 25/08/2018] ria ma: salve ai 😽
[20h27 25/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: salvee
[1h21 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vey eu tive uma ideia genial, preciso contar pra alguém pra ir desenvolvendo
[1h21 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: quer ouvir
[1h35 26/08/2018] ria ma: eeai, conta pra mim!
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vou entrar pra história como criador da licença black creative commons. ubuntu, sou um arauto da minha raça! soh sou porque nós somos, com a bcc, vamos pegar de volta tudo que os brancos nos roubaram. que venha reparação histórica!
logo mais sai o manifesto!
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: to muito ansioso pra articular os argumentos
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: mas a ideia eh que seja uma licença de uso de direitos autorais tipo o jah existente creative commons e dominio pùblico
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: soh que exclusivamente entre o povo preto, assim a gente se aquilomba e começa a viver o ubuntu, praticando mais escambos e doações solidárias
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: eu mesmo nunca mais vendo arte pra preto
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: mandamos bem
[1h35 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: os branco se fuderam jdjshdisb
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vou tentar expandir a ideia ao máximo de setores possiveis
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: pra hackear o capitalismo incentivando escambo e mangueio entre pretos
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ e incentivando a venda de produtos produzidos por pretos a preços cada vez mais exorbitantes
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: e com o tempo e a ascensão de minha raça em cargos de autoridade pùblica iniciaremos um processo de reparação histórica lenta e gradual, mas sem fins
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vou recomendar a um amigo indigena que crie uma versão para seu povo
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: e que versões semelhantes se multipliquem entre povos não brancos
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: não gosto de asiáticos
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: odeio os hegemônicos
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: gosto dos hindus
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: dos palestinos
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: os nativos da oceania
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: america latina amo
[1h37 26/08/2018]Èșù Ti Gbédè Yakọ: africa nem se fala
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọo: o resto do mundo odeio por questão de ódio de classes
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: e afinidades culturais
[1h37 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: ah e no sei o que sentir quanto aos mulçulmanos
[1h41 26/08/2018] ria ma: uma rede de comércio negra, a princípio, protecionista? Digo, um protecionismo étnico.
[1h41 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: na real que eu soh nåo gosto dos asiáticos ricos, sendo honestamente intelectual bfkdjdn
[1h41 26/08/2018] ria ma: cara, c ta copiando e colando aqui cassete? Shahshshshhshshahahsha
[1h42 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: siii
[1h42 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: quase toda conversa minha eh um experimento antropológico e sociopsicológico
[1h43 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: dai curto copiar e colar meus textos
[1h44 26/08/2018] ria ma: to ligada, então me responde se é mais além que isso.
[1h49 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: siiii
[1h49 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: absolutamente proteccionismo etnico!
[1h49 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: amei o termo
[1h49 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vamos construir juntos
[1h49 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: somos fodas!
[1h52 26/08/2018] ria ma: parece um anacronismo inovador, tendo em vista que será nos parâmetros capitalistas. Fazera a reforma e nem se darão conta totalmente, primeiro, pela falta de situação corpo- história, segundo, grana é grana ne...
[1h52 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: siiii
[1h52 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: assim o afrofuturismo se tornará realidade
[1h55 26/08/2018] ria ma: quando penso em algo a longo prazo, pensaria em recrutamento de negrxs para irem ao poder, negrxs geniais estudando política e fazendo-a. Porque somos a maioria, apenas falta alguém que nos mostre o quão forte somos. Nós falta líderes.
[2h01 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: sii
[2h02 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: 👣🙏🏿✊🏿💪🏿🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤
[2h02 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vou me aquilombar uma irmã da economia
[2h02 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: pra ela fortalecer a gente no desenvolvimento
[2h03 26/08/2018] ria ma: ótima idéia, com profissionais para enxergar além do tempo.
[2h08 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vou escrever uma heptalógia deromances de sci_fi e umas hqs, criar um novo subgênero, o afrocyberpunk, que vai sintetizar o afrofuturismo (com meu método de composiçao proprio, {a antropofagia brancofóbica}) com o cyberpunk partindo do bcc, para o prpo
[2h08 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: proteccionismo etinico e culminando em colonização e escravidão reversas
[2h10 26/08/2018] ria ma: vai dominar o mundo hein
[2h10 26/08/2018] ria ma: ta soando ótimo seus projetos
[2h10 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: vamos!
[2h10 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: ubuntu bb
[3h26 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: posso copiar e colar nossa conversa como manifesto?
[3h27 26/08/2018] ria ma: claro! !!
[3h28 26/08/2018] Èșù Ti Gbédè Yakọ: top🖤
laroyê! 🔥🖤💪🏿✊🏿🙏🏿👣😘
bora se aquilombar!
copiem e colem como uma corrente negada!

segunda-feira, 14 de maio de 2018

7 896045 523412
outro. não. mesmo dia. poros em expansão. pálpebras parindo abismos. vai e vem. a esteira sempre retorna. nenhum passageiro acordado. vai e vem. nenhum passageiro incólume. sempre outro. luvas de malha de aço. o corpo preto sente frio enquanto sua mais frio ainda embaixo do cobertor branco. tira a camisa. branco não, bege, não, se bem lembro, cor de sujeira. o ar o afoga. travesseiro azul anil. babado. o corpo preto sente mais frio enquanto sua frio. a boca grita. ossos ensaiam uma convulsão. baratas o afagam. o mesmo ruído em um enorme bloco informe. outro carro. maciço. vai e vem. talvez um ônibus. nada de novo sobre a terra. crachá. a memória é um chinelo remendado que a cada passo pesa uma tonelada a mais. ele trabalhava cortando pescoços. uma faca curva. a mesma esteira sempre retornava. vai e vem. nada de novo embaixo da terra. roupa branca. o corpo preto penteou seus cílios remelentos. botas de borracha branca. bicicleta velha. vai e vem. sem freio, como o último segundo deste presente natimorto. o fulgor plúmbeo da aurora ameaçou lhe cegar com seus raios diáfanos, finos. os calcanhares sujos e rachados quase se camuflaram no asfalto abaixo. touca branca. -23 °C. sangue. capa de plástico transparente. algum outro pescoço. quarenta e dois mil em dez horas. ele parou de escovar os dentes quando o primeiro caiu. ou seria o segundo, ou o terceiro. não se sabe ao certo. alguém lembra? amanhã. oxalá ontem. pode ser o mesmo amanhã. quicá hoje. outro igual por ser outro. embornal com furo na lateral. o corpo preto lima sua pele árida, e agora cinza, com as unhas trincadas. a lâmina ensaia uma paralela horizontal. ele vai desfilar bêbado no corrimão da ponte mais próxima com mais pompa e elegância que a última miss universo. vai e vem. o corpo não fala. outros o obrigam a se arrastar. se arrastar não. chutar um pé atrás do outro. cílios emolduram vertigens. enquanto segura o saco preto com uma mão recolhe outra latinha com a outra. o chão passa. coração sem paraquedas. parafuso. a fome entorpece. nunca o bastante. o mesmo corpo corre imóvel. sem especulação. outro mesmo corpo. 29 °C. soalheiro. outra. não. mesmo corpo. simultaneamente. teto balança. pontinho preto. maior. cadeira de plástico. hibiscos de vidro. copo de alumínio. ontem. gota a gota. o lençol. testemunhou o sangue novo. simbiose. bicho de pé. outro corpo e o mesmo outro. não. outro mesmo e o corpo. sim o outro corpo e este mesmo. sua língua em meu nariz.outra noite. a mesma. A bagagem mais pesada é a memória. segundos pululam entre o sal
ray cruz