ifé.
você morde
minhas costas
quando eu queria
um beijo cronocida
o dragão de komodo
nina minha sombra
polaroides ensaiam
outra catarse
nas vielas
de um
ocaso
nulo
Ray Cruz
outra trip kamikaze do Mr. Lonely
abraço a solidão
nas encruzilhadas
desse desespero paraplégico
guardo bugs no bolso
e abraso este rodízio
de dúvidas mal passadas
atraso meu sonho
colho um buquê de coçeiras
no meu jardim de olheiras
ignoro meu pulmão fálido
protelo outro passo
&
peregrino nas sobras
de outra cicatriz cardiaca
abraço meus calos
o dharma da 3° lei de Newton
me condena a ser perenemente
Edward Mãos de Tesoura
depois de fazer
o número dois
no banheiro
da rodô
aperto meus olhos
2:32 am
nenhum cinzeiro bulímico
vai me doar uma bula
esqueci de estourar
os calos do meu pé
pensando em você
abraso meus olhos
2:45 am
e sei que agora
nenhum cacto
suportaria
meu
abraço
Ray Cruz
jag älskar dig
ninguém conhece
totalmente ninguém
egoísmo autófago
chave da chaga em chamas
liturgia profana
tuas janelas abertas
meu paraíso no inferno
sou uma pedra
de 23 toneladas
edificando uma caverna
entre teus seios
mortalha da esperança
tuas petálas balbunciando
cantigas de poda
sede e sangue
sorvendo a mesma língua
solidão canibal
acordando o desejo
crucificando a distância
cicatriz zumbi vegana
colhendo sonhos
em uma vitrine
de plástico bolha
auto holocausto indulgente
tua boca adubando sorrisos
teu pescoço encoleirando
meus dias
cura?
anestesia?
paliativo?
só sei que amo o que conheço
e ainda mais o que desconheço
só sei que...
jag älskar dig
e não sei a qual fim do mundo
isso vai nos levar
não importa
fumaremos qualquer apocalipse
compartilhando
os mesmos coRpos sem fundo.
Ray Cruz
mate seu policial interior
hoje eu voltava do trampo no busão lotado. o mesmo gado ruminando sua alienação diária.
uma ex enfermeira falando de aborto. contando que uma colega de profissão uma vez transformou um feto em um chicote para punir uma mulher chorando.
só o sentimento de culpa não basta. arrependimento? piada.
carregue o tambor e mire no espelho.
eles estão por ai. os comensais da moral. filhos dos homens. eles podem te parar. eles podem te bater.
outro dia eu descobri que eles moram em mim e em você.
amanhã vou girar novamente o punhal cravado em suas costas.
hoje só resta ninar o terror noturno.
quando eu tinha 13 anos, vender cola na escola não foi suficiente para evitar o bullying. espalhei pra cidade inteira que eu era traficante. até que os traficantes começaram a me procurar. então eremitei.
segure seu cão. o meu está sempre atrás. quase se soltando.
quando eu tinha 14 anos eu amava simular uma briga com os amigos. trocando socos e hematómas.
quando eu tinha 15 anos planejei matar um cara porque me disseram que ele ia me matar primeiro.
uma vez encontrei um amigo em uma festa.
ele me cumprimentou
"e ai viado?"
"e ae"
então meu irmão xingou a mãe dele e eles começaram a brigar.
fui embora e curti a festa.
profanissíma trimúrti ancestral.
idolatramos a violência, a morte e a maldade.
sublimação?
catarse?
instinto?
eu diria que é apenas humanidade.
ontem carreguei o tambor e mirei no espelho.
hoje o cão está solto.
amanhã vou girar o punhal cravado em minhas costas.
Ray Cruz