terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ifé.

você morde
minhas costas
quando eu queria
um beijo cronocida
o dragão de komodo
nina minha sombra
polaroides ensaiam
outra catarse
nas vielas
de um
ocaso
nulo

Ray Cruz

outra trip kamikaze do Mr. Lonely

abraço a solidão
nas encruzilhadas
desse desespero paraplégico
guardo bugs no bolso
e abraso este rodízio
de dúvidas mal passadas

atraso meu sonho
colho um buquê de coçeiras
no meu jardim de olheiras
ignoro meu pulmão fálido
protelo outro passo
&
peregrino nas sobras
de outra cicatriz cardiaca

abraço meus calos
o dharma da 3° lei de Newton
me condena a ser perenemente
Edward Mãos de Tesoura
depois de fazer
o número dois
no banheiro
da rodô

aperto meus olhos
2:32 am
nenhum cinzeiro bulímico
vai me doar uma bula
esqueci de estourar
os calos do meu pé
pensando em você

abraso meus olhos
2:45 am
e sei que agora
nenhum cacto
suportaria
meu
abraço

Ray Cruz

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

jag älskar dig

ninguém conhece
totalmente ninguém

egoísmo autófago
chave da chaga em chamas
liturgia profana
tuas janelas abertas
meu paraíso no inferno

sou uma pedra
de 23 toneladas
edificando uma caverna
entre teus seios

mortalha da esperança
tuas petálas balbunciando
cantigas de poda

sede e sangue
sorvendo a mesma língua

solidão canibal
acordando o desejo
crucificando a distância

cicatriz zumbi vegana
colhendo sonhos
em uma vitrine
de plástico bolha
auto holocausto indulgente

tua boca adubando sorrisos
teu pescoço encoleirando
meus dias

cura?
anestesia?
paliativo?

só sei que amo o que conheço
e ainda mais o que desconheço
só sei que...
jag älskar dig
e não sei a qual fim do mundo
isso vai nos levar

não importa
fumaremos qualquer apocalipse
compartilhando
os mesmos coRpos sem fundo.

Ray Cruz

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

mate seu policial interior

hoje eu voltava do trampo no busão lotado. o mesmo gado ruminando sua alienação diária.
uma ex enfermeira falando de aborto. contando que uma colega de profissão uma vez transformou um feto em um chicote para punir uma mulher chorando.
só o sentimento de culpa não basta. arrependimento? piada.
carregue o tambor e mire no espelho.
eles estão por ai. os comensais da moral. filhos dos homens. eles podem te parar. eles podem te bater.
outro dia eu descobri que eles moram em mim e em você.
amanhã vou girar novamente o punhal cravado em suas costas.
hoje só resta ninar o terror noturno.
quando eu tinha 13 anos, vender cola na escola não foi suficiente para evitar o bullying. espalhei pra cidade inteira que eu era traficante. até que os traficantes começaram a me procurar. então eremitei.
segure seu cão. o meu está sempre atrás. quase se soltando.
quando eu tinha 14 anos eu amava simular uma briga com os amigos. trocando socos e hematómas.
quando eu tinha 15 anos planejei matar um cara porque me disseram que ele ia me matar primeiro.
uma vez encontrei um amigo em uma festa.
ele me cumprimentou
"e ai viado?"
"e ae"
então meu irmão xingou a mãe dele e eles começaram a brigar.
fui embora e curti a festa.
profanissíma trimúrti ancestral.
idolatramos a violência, a morte e a maldade.
sublimação?
catarse?
instinto?
eu diria que é apenas humanidade.
ontem carreguei o tambor e mirei no espelho.
hoje o cão está solto.
amanhã vou girar o punhal cravado em minhas costas.

Ray Cruz

nunca mais cortarei os cabelos da minha alma
não me lembro
o que fiz no domingo passado
&
não sei em que estação do ano estamos
todas as crianças me olham
com medo e curiosidade
quando fumo um na frente delas
sempre acho engraçado
a inocência zombando da maldade
peço pra não contarem pra minha mãe
e imagino que viajei no tempo
sou novamente uma criança
com medo de brincar
depois que quebrei a janela
e encharquei os cobertores
com lágrimas e catarro
espero a brisa passar
fitando a enxurrada
e não sei bem porque
me lembro da enxada
espremi o litro
e lambi cada gota
minha mãe nunca percebe
quando eu to chapado
me lembro da Igreja do SubGenius
e de Dostoievski
tento esquecer que eu
deveria entrar na faculdade
preciso de mais slack
lembro que eu gosto de brincar
de peteca com balões de aniversário
eu preciso mesmo é tomar
colheradas de Ilusão Absoluta
Ray Cruz
Como fazer sua própria religião:
1. Escreva seu livro sagrado nos guardapos de um bar sem alvará
2. Crie seus rituais pros momentos especiais: antes de ir ao banheiro, antes das refeições e após beber qualquer coisa
3. Mergulhe no seu inconsciente antes dos passos 1 & 2
4. Abuse de drogas, jejue, durma 24 horas seguidas e depois passe 50 horas sem dormir.
5. Registre todos os seus sonhos e pesadelos
6. Escreva um roteiro para seu panteão de selfies
7. Distribua panfletos em branco em frente a algum monumento histórico
8. Invente suas festas e danças pelado, mas sem usar espelho.
9. Ofereça tudo que comer a si mesmo.
12. Faça uma lista dos piores erros que você pode ter e transforme a lista em uma ficha criminal na delegacia do Super ego.
11. Queime seus livros sagrados e seja o fogo que os consome.

Ray Cruz
Como Ser New Age
0. Estimule seus chakras nas rodoviárias, pontos de ônibus, cachoeiras, praças, semáforos, etc.
1. Comece a meditar diariamente, mas sem pegar no sono.
2. - Envie seu mapa astral pra garota para que ela se apaixone pela sua persona.
3. - Use blusas de deuses da India que você nem sabe pronunciar o nome.
4. Leia todas as teorias de fisica quântica que encontrar, depois releia de trás pra frente.
5. Seja vegetariano e se possível hermafrodita
6. Acene para as pessoas apenas com mudrás.
7. Não durma ou saia da cama sem entoar mantras.
8. Fabrique seu próprio japamala e não use relógios, sincronize com o Universo.
9. Encontre um portal sagrado uma vez ao ano, nem que seja no seu quintal.
10. Não acenda insenso e ganja no mato ao mesmo tempo. Compre colírio pro seu terceiro olho.
0. Estimule seu chakra em rodoviárias, pontos de ônibus, praças, cachoeiras, semáforos etc. Mas faça isso usando sacolas teleplásticas.
Um tutorial  de Ray Cruz em parceria com o reptiliano Obera's

comprei 2kg de arroz
com meus últimos 
sete golpes.
inclusive
o único 
golpe
que eu
guardava
no pescoço
e com os cinco
golpes que roubei
da minha mãe no dia
que levei meu irmão no
hospital psiquiatrico e ainda
faltaram cinco centavos que pedi
pra senhora gentil do brechó da rua
atrás do supermercado Primavera
algumas horas atrás quando
eu comprei 2kg de arroz 
com meus únicos sete golpes.

Ray Cruz
último desejo
quando eu morrer
se minha família
me ignorar tanto
quanto ignora em vida
não doando meus orgãos
não cremando o que restar
nem lançando minhas
cinzas na privada
se eu for enterrado
não como indigente
que sempre fui em
nosso exílio de cada dia
imploro que meus amigos
e conhecidos enforquem
cartazes em minha
lápide, cruz ou gaveta
com epitáfios provisórios
repletos de absurdo
e sinceridade
e se estiverem com preguiça
ou morarem longe demais
escrevam na seda de seus
baseados e fumem minha
memória
e se pararem de fumar
enfiem esses epitáfios em envelopes
e abandonem nas caixinhas de correios
de qualquer igreja.

Ray Cruz

um poema de Ray para Raimundo
aceita que dói menos
o futuro não é tua marmita fria
nenhum playground é grátis
não adianta tentar
você sabe que não vai encontrar
desista logo!
não adianta se expressar!
deixa de ser otário!
jogue na loteria!
volte ao psiquiatra
consiga umas dezenas de comprimidos
roube todos os remédios do seu irmão
mas antes, pare de escrever por uns dois meses
e antes disso pare de trabalhar
de uma vez por todas
não há razão para continuar
você sabe, as pessoas
tem contas bancárias e sentimentos
e você é o produto perecível
mais barato do espetáculo
não vale a pena pensar
nenhuma estrela vela por ti
nenhum sol nascerá para te aquecer
nenhuma lua iluminará teus passos
nenhuma vaca se matará por você
ninguém vai comprar
teus resmungos
ninguém! Raimundo!
ninguém pagará um centavo por sua alma
com defeito de fábrica
tu sabe Raimundo,
tua carne não vale um cacho de bananas
espera seu Imundo!
onde estavámos mesmo?
ah sim, pegue teu estoque de medicamentos
e roube aquele litro de Velho Barreiro da sua mãe
compre dois bons estiletes
se tranque no banheiro da sua casa
com uma corda
engula tudo!
corte os pulsos
e se enforque!
porque só o silêncio é sagrado
só o segredo é santo
só as mentiras podem te proteger
Raimundo, pare de dançar
para esses abismos cegos
pare de cantar
para teus medos surdos
apenas ame o teu destino
conte seus passos!
corte teus dreads!
colha seus dentes!
e esqueça a música
você merece!
despreze todo o lirismo embriagado
execre todo o lirismo drogado
não tente aprender mais nada
a cova não está funda o bastante?
cave deitado canto do quarto
Raimundo olvide todos os versos
declare seu ódio por todos
aqueles que já lhe disseram eu te amo
ninguém vai te curar
da salvação
Jesus! apaga a luz!
o maço Raimundo vai apagar em seu braço
vai lá Raimundo!
gaste todas as suas últimas moedas
com mais pedras nojentas
D E S I S T A ! ! !
D E X E S I S T A ! ! !
antes que a batalha
lhe derrube
não olhe para esquerda!
não olhe para a direita!
não olhe para cima!
não olhe para baixo!
não olhe para frente!
não olhe para trás!
não me venham com revoluções
a única revolução é a morte!
não me venha com versos!
o único poema...
RAIMUNDO!
O ÚNICO POEMA É A VIDA!!!

Ray Cruz
deus está surfando na onda de crimes
você já é maior que o Pai
ele não pode mais te machucar
mande ele enfiar a cruz naquele lugar
o mundo te espera
de pernas abertas
e miolos salpicados
nas paredes cegas e surdas
as calcinhas apertadas
sempre dificultam o coiso
e eu sei que ninguém rasga
uma calça jeans com os dentes
mas vamos lá!
ninguém vai gritar mais alto que o seu ódio
nenhuma lágrima vai pesar mais que a sua dor
tem um chafariz 
pedindo carta de alforria
em cada jugular
o tambor só não está mais
cheio que a caixa registradora
puxe o cão
e nunca mais peça emprego
é exatamente isso que tu quer
cheire a próxima carreira
e vamos lá!
o inferno só existe
debaixo da batina do Papa
nos hábitos das freiras
trate bem o seu patrão
arranque as entranhas
daquele peixe morto
a plenitude da vida
é uma explosão nuclear
ainda acredita em certo ou errado?
o medo devora seus sonhos
e todos aqueles dentes brancos
esperam um gancho seu
não, não se preocupe
a polícia não pode prender sua alma
você já a vendeu pra sociedade
vamos lá! pense na primeira página
o tapete vermelho 
debaixo do seu all star rasgado
todo o sangue de cada cretino
lavando seus passos 
o sumo do conhecimento do bem e do mal
santificando sua língua
e toda a vodca 
que você conseguir beber
acenda outro e vamos lá 
chega de comer arroz com ovo
eles disseram que você ia vencer
naquele tribunal
levanta essa bunda quadrada
deligue a tv 
e prove a si mesmo que você está vivo!


Ray Cruz

hey you!
"todos são desgraçados, mas quantos o sabem?"
Cioran
ei você, que estudou em boas escolas
e agora ta na universidade
aprendendo a viver do que gosta
ei você, que faz exercícios físicos
e tem uma dieta saudável
ei você, que passa protetor solar fps 60
você que nunca fez chuca ou foi apalpado no busão
ei você, que só mija em cima de desinfetante
e nunca mastigou cinco formigas no último copo de café
ei você, que não lava suas calcinhas 
nem observa a própria merda
ei você, que tem um ótimo emprego, cerca elétrica
ou um família bem estruturada
ei você, que não perde o show do final de semana
nem a praia das férias
olha pra mim!
pega tua piedade e enfia no CU (Centro do Universo)
ou deixa que eu escarro
ela na tua lápide
isso mesmo! VOCÊ! você mesmo!
acumulador de atitudes nulas
pré adubo de cemitério
narciso bom samaritano
deus que caga
entre quatro paredes
até vestir paletó de madeira
ei você, você mesmo que se ilude tão bem
você com caráter de grife
trocaria dois socos comigo?
você que não me enxerga e só vê
o que visto, minha cor, o que tenho
onde vivo, o que faço pra viver
vem aqui chupar meu orgulho!
ou enfia essa tua peninha no Centro do Universo 
(seu CU)!


Ray Cruz

Soneto insondado
Carinhos enlutados
Medos enlatados
Fígados flagelados
Segundos cravados
Em outro abraço
Vazio, como este maço
De cicatrizes, linhas e traços
Que recheio de erros crassos
Para doar com desdém
Ao próximo ninguém
Que ver um pouco além
Do sorriso fatigado
Deste idiota embriagado
Com a vulgaridade de seu Fado.

Ray Cruz
como ser artista em 2016
1- tenha dinheiro e doenças crônicas antes de postar seu FORA TEMER
2- compre arte, mas consuma mais psicotrópicos que Arte
3- cague sua vida e o mundo em coisas que nem você entende
4- idolatre e cite todos os seus imortais preferidos
5- fale mal de todas as panelas grandes ou pequenas ou coloque uma na cabeça antes de sentar no para raios do museu mais próximo
6- fale mais mal ainda de todos que são diferentes de você e da humanidade e suas psicoses morais
7- tenha o seu séquito de sanguessugas e vampiros emocionais ou doutorado em marketing e especialização na venda de inutilidades
8- esteja desconfortável na sua zona de conforto ou só viva dentro de uma camisinha politicamente correta
9- tente ter um pau maior que seu ego, ou psicodelia fotossensivel ou esquizofrenalérgia da realidade
10- encontre sempre justificativas profundas pra todas as coisas que defecar no item 3 e sempre tente cagar coisas mais cheirosas e apetitosas
11- tente não morrer de fome em todas as mortalidades de nadação e no arremesso de vários nadas
12- só ame a vida na mesma medida em que a odeia ou jogue uma roleta russa com 5 balas no tambor do 3oitão antes de levantar da cama com o pé esquerdo


Ray Cruz
Como esmagar sua misantropia:
1. pare de comparar suas qualidades com os defeitos alheios.
2. ignore todos os aspectos em comum nos seres humanos.
3. mantenha o máximo de distância possível da sua família.
4. nunca saia de casa sem antes tomar um litro de vodca.
5. aceite todos os panfletos das igrejas e santinhos e use pra enrolar baseados ou acender seus molotovs.
6. visite grupos de apoio para doentes terminais.
7. só fique em casa no horário das refeições, mas sempre que sair de sua casa, leve a consigo.
8. venda afrodisíacos em praias de nudismo.
9. tenha amigos imaginários, mas só fale com eles em Libras.
10. crie sua sociedade secreta para conquistar o mundo e pare de usar o ponto final
11 diariamente cometa o pior erro da sua vida ou faça a coisa mais idiota que conseguir imaginar
12 entre para o clube dos niilistas alegres
13 organize filas, ame ou odeie uma pessoa de cada vez

Ray Cruz
eu ainda tenho oito anos
a vizinha falava
do homem que
amava os animais
galinhas, cadelas e gatas
eu tinha oito anos
e imaginava como
sobreviviam os animais
e ela falava coro estica
mas não rasga
eta! judiação com
as criaturas de deus
eta! monstro sem deus
no coração
dez anos depois
o vizinho me
convidava pra
beber vinho
e ouvir Legião
e ele me apalpava
antes de terminar
deu fumar o cigarro
que ele me arranjou
eu tinha oito anos e
imaginava se ele
faria o mesmo
com a minha gata
em troca de uma mão
cheia de amor e ração.

Ray Cruz
outro calo na palma do meu olho
minha mão sangra
no cabo do próximo verso
que caleja a labuta maldita
dando cabo de si
entulho obscuro
resto duro indigesto
soterrado no peito nu
escombro escavado
no suor sangrado
por falta de ter o que escolher
por força de vontade de comer
outro dia entornado
em si destroçado
no cabo de saber
na boca o gosto amargo
do "ter ou não ser?"
minha mão chora
flores vermelhas
ao cabo do inacabado
que soa como um
calo sangralienado.

Ray Cruz
Odeio meu trabalho.
Meu suor 
Tem cheiro de
Concreto fresco
Minhas lágrimas com 
Sabor de argamassa
Meu sangue da cor
Daquelas telhas
De cerâmica
O trabalho braçal
Irrefletido e irracional
Me torna mais um animal
Cada pá de areia
Uma agulhada
Em cada músculo
A endorfina
Nem parece mais
Um agradecimento
Pelo meu corpo ainda
Estar inteiro
Treze longos anos
Na escola para
Aprender a ser
Um burro
De carga
Alguém me vende
Um emprego
Pago com 
O resto
Da minha
Vida.

Ray Cruz
minha consciência é negra
não me lembro
quando percebi que sou negro
deve ter sido no colo da minha mãe
quando percebi que sou
alguma coisa com fome
mas acho que percebi
o que ser negro significa
nos primeiros anos da escola
todos os dias
as pessoas me lembram que sou negro
será que elas acham que eu me esqueço?
todos os dias alguém
comenta minha cor
fala algo sobre o meu cabelo
na maioria das vezes
dizem que é feio
me aconselham a evitar
o preconceito
raspa esse cabelo duro
para de tomar sol
bebe menos café
eu sei que querem me embranquecer
também tem aqueles que dizem
"eu amo a sua cor"
"queria ser preto"
todos os dias
alguém julga minha pele
como se eu me importasse
com minha embalagem
ou vivesse o tempo todo
esperando ser discriminado
ou ser ovacionado
por simplesmente
ser o que sou
eu to acostumado
com o medo me olhando
dentro dos carros
e nos becos sujos
eu to acostumado
com a desconfiança
me examinando
abaixo das sirenes
eu to acostumado
com os pronomes escuros
e ai neguin, e ae negão
eu demorei um pouco
pra parar de querer
ser branco igual o Superman
o Neo, o Goku e tantos outros
heróis da infância
eu demorei um pouco
pra não me importar
com o que as pessoas
falavam e continuam a falar
conhecendo a história
descobri minha herança
passei a apreciar
o que me ensinaram
que era feio
começei a sentir os tambores
tocando meu sangue
dia 20 de novembro
é só um dia pra relembrar que
o preconceito é um vizinho psicopata
e que apesar da carne negra
ser a mais barata do mercado
é ela que continua
alimentando essa nação
porque pra mim
o dia da consciência negra
é todo santo dia
que enxergam minha cor
primeiro que meu interior

Ray Cruz
direitos humanos

nas filipinas
o presidente
aconselha
as vítimas
a atearem
fogo nas
casas dos
traficantes
aqui eu ganho
comprimidos
do governo
pra ser um
pouco menos
infeliz e inútil
lá quem não
deve não teme
aqui temer é
mais inevitável
que paralisia do sono
nunca faço a cama
em que me deito
só como o que não
planto
mês que vem
digo que paro
de beber
ano que vem
prometo que
paro de fumar
cinco minutos atrás
comecei a esconder
toda roupa suja
embaixo do tapete
já joguei o ventilador
na merda deles
puxei a descarga
&
amanhã vou enviar
o último mandato
de busca e apreensão
para o meu próprio perdão.



Ray Cruz