quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

mate seu policial interior

hoje eu voltava do trampo no busão lotado. o mesmo gado ruminando sua alienação diária.
uma ex enfermeira falando de aborto. contando que uma colega de profissão uma vez transformou um feto em um chicote para punir uma mulher chorando.
só o sentimento de culpa não basta. arrependimento? piada.
carregue o tambor e mire no espelho.
eles estão por ai. os comensais da moral. filhos dos homens. eles podem te parar. eles podem te bater.
outro dia eu descobri que eles moram em mim e em você.
amanhã vou girar novamente o punhal cravado em suas costas.
hoje só resta ninar o terror noturno.
quando eu tinha 13 anos, vender cola na escola não foi suficiente para evitar o bullying. espalhei pra cidade inteira que eu era traficante. até que os traficantes começaram a me procurar. então eremitei.
segure seu cão. o meu está sempre atrás. quase se soltando.
quando eu tinha 14 anos eu amava simular uma briga com os amigos. trocando socos e hematómas.
quando eu tinha 15 anos planejei matar um cara porque me disseram que ele ia me matar primeiro.
uma vez encontrei um amigo em uma festa.
ele me cumprimentou
"e ai viado?"
"e ae"
então meu irmão xingou a mãe dele e eles começaram a brigar.
fui embora e curti a festa.
profanissíma trimúrti ancestral.
idolatramos a violência, a morte e a maldade.
sublimação?
catarse?
instinto?
eu diria que é apenas humanidade.
ontem carreguei o tambor e mirei no espelho.
hoje o cão está solto.
amanhã vou girar o punhal cravado em minhas costas.

Ray Cruz

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