segunda-feira, 14 de maio de 2018

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outro. não. mesmo dia. poros em expansão. pálpebras parindo abismos. vai e vem. a esteira sempre retorna. nenhum passageiro acordado. vai e vem. nenhum passageiro incólume. sempre outro. luvas de malha de aço. o corpo preto sente frio enquanto sua mais frio ainda embaixo do cobertor branco. tira a camisa. branco não, bege, não, se bem lembro, cor de sujeira. o ar o afoga. travesseiro azul anil. babado. o corpo preto sente mais frio enquanto sua frio. a boca grita. ossos ensaiam uma convulsão. baratas o afagam. o mesmo ruído em um enorme bloco informe. outro carro. maciço. vai e vem. talvez um ônibus. nada de novo sobre a terra. crachá. a memória é um chinelo remendado que a cada passo pesa uma tonelada a mais. ele trabalhava cortando pescoços. uma faca curva. a mesma esteira sempre retornava. vai e vem. nada de novo embaixo da terra. roupa branca. o corpo preto penteou seus cílios remelentos. botas de borracha branca. bicicleta velha. vai e vem. sem freio, como o último segundo deste presente natimorto. o fulgor plúmbeo da aurora ameaçou lhe cegar com seus raios diáfanos, finos. os calcanhares sujos e rachados quase se camuflaram no asfalto abaixo. touca branca. -23 °C. sangue. capa de plástico transparente. algum outro pescoço. quarenta e dois mil em dez horas. ele parou de escovar os dentes quando o primeiro caiu. ou seria o segundo, ou o terceiro. não se sabe ao certo. alguém lembra? amanhã. oxalá ontem. pode ser o mesmo amanhã. quicá hoje. outro igual por ser outro. embornal com furo na lateral. o corpo preto lima sua pele árida, e agora cinza, com as unhas trincadas. a lâmina ensaia uma paralela horizontal. ele vai desfilar bêbado no corrimão da ponte mais próxima com mais pompa e elegância que a última miss universo. vai e vem. o corpo não fala. outros o obrigam a se arrastar. se arrastar não. chutar um pé atrás do outro. cílios emolduram vertigens. enquanto segura o saco preto com uma mão recolhe outra latinha com a outra. o chão passa. coração sem paraquedas. parafuso. a fome entorpece. nunca o bastante. o mesmo corpo corre imóvel. sem especulação. outro mesmo corpo. 29 °C. soalheiro. outra. não. mesmo corpo. simultaneamente. teto balança. pontinho preto. maior. cadeira de plástico. hibiscos de vidro. copo de alumínio. ontem. gota a gota. o lençol. testemunhou o sangue novo. simbiose. bicho de pé. outro corpo e o mesmo outro. não. outro mesmo e o corpo. sim o outro corpo e este mesmo. sua língua em meu nariz.outra noite. a mesma. A bagagem mais pesada é a memória. segundos pululam entre o sal
ray cruz

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