sábado, 25 de agosto de 2018

PORQUE SÓ HOJE CONSEGUI ACEITAR QUE SOU UM GÊNIO.
começaram ame chamar de gênio na quarta série. antes minha família soh me chamava de burro e idiota. aprendi a ler com seis anos, quase sete, assistindo televisão, quase sem querer. eu era viciado em televisão. programa do gugu.mãe aquilo ali é bola neh. eh pronto meu fih sabe ler, nem é tão burro o moleque. eba! na quarta série eu tive duas professoras maravilhosas. que me ensinaram o que reza o senso comum sobre racismo e a escrever poesia. acho que elas foram as primeiras pessoas na minha vida a injetar auto-estima em meu pequeno corpinho preto eternamente magro de pneumonia.enfim, muitos anos se passaram e mais discriminações e violências que os segundos que teceram tais anos. e várias outras pessoas me chamaram de gênio neste período. eu nunca acreditei nelas. primeiro; porque eu nunca acreditei em mim. segundo; porque desde cedo eu sempre tive a impressão de que 99% das pessoas ao meu redor eram mais burras que eu e soh por isso elas me achavam inteligente.
hoje ao acordar cedo, por causa da insônia, comecei a trabalhar, como venho fazendo diariamente desde que minha depressão se tornou hiperfuncional. como estou sem antidepressivos, porque novamente perdi a consulta com o psiquiatra despirocando, comecei a beber pouco depois de acordar, como venho fazendo desde que fiquei sem antidepressivos, então por volta das 10 horas da manhã, ainda trabalhando, comecei a sentir fortes náuseas. contrições estomacais. tontura. taquicardia. vertigem. lembrei das pessoas que me chamaram de gênio, e pensei vou postar; eh foda, ser um gênio e ainda si no conseguir se alimentar direito, soh pelo hábito de passar fome. ai pensei haha, como se eu fosse mesmo um gênio. é preciso duvidar de tudo neh.?. eu sou um gênio.?. ai lembrei do que eh ser um gênio segundo a sábia vozinha wikipedia. ai lembrei que aundo eu tava na quarta série comendo café com farinha, eu fiz um simulado de vestibular e fiquei em décimo nono, chutando a maior parte. as professoras queriam me passar pra uma turma do terceiro ano. ficavam me colocando pra dar aula pra quinta série e ensino médio. pastor me colocando pra pregar em igreja. ai deixei de ser nerd, como forma de reagir ao bullying. quando fiz o enem pela primeira vez chutei a maior parte das perguntas, passei e perdi a vaga porque vim pra ocids correndo pra trampar de servente com meu cunhado e esqueci os documentos na bahia. passei um ano trabalhando na construção civil e no alcoolismo. fiz a redação do enem virado,. passei de novo e tô cursando filosofia. desisti da escola no primeiro ano do ensino médio quando a biblioteca fechou. passei um ano na universidade sem ser aprovado em uma disciplina. primeiro semestre; fiquei sem teto fixo. segundo semestre; a apatia, a anedonia, a melancolia e a ansiedade me enclausuraram em casa. ai no terceiro virei o jogo. depois de um laudo psiquiátrico e dois trancamentos justificados, dois MS e um SS. e pensei. vai se fuder! holy shit! eu sou um gênio, inverti a pirâmide de Maslow cuzão! psiquiatra branco no meio do séc xx diz que para o ser humano saciar necessidades altas como auto-realizações e estima, eh necessário que antes ele tenha suas necessidades básicas supridas. ai no final do séc xx nasce eu e faço da minha vida a inversão dessa pirâmide branca de necessidades e desenvolvimento de aptidões. ai comecei a me lembrar de todos aqueles dias debaixo do sol escaldante do nordeste, quando eu ficava puxando cobra pro pé com a enxada, quando eu ficava rachando lenha, quando eu ficava empilhando lenha do meio no mato. mexendo concreto na enxada, descarregando caminhão de brita 0 etc e ao mesmo tempo compondo poemas, escrevendo romances na minha cabeça, parindo heterônimos, refletindo sobre a utilidade e o risco de todas as crenças, perscrutando as superficies do incompreensível, pensando como não ser soh mais um homem preto, idiota machista, homofóbico, infeliz e escravizado em um subemprego reificante, soh mais um traficante, torcedor do mengão, soh mais uma gaveta recheada da carne mais barata no IML. comecei a lembrar dos meus irmãos. comecei a lembrar da minha famía, comecei a lembrar dos colegas de escola. eu não trocaria minha vida pela de nenhum deles. muito menos meu cabedal e minha consciência. ai comecei a pensar no número de brancos burros, medíocres, vazios e infelizes que estudaram em escolas particulares como o marista e que conheci na unb. entre alunos e professores. eles deveriam beijar o chão onde piso, pagar pra me ouvir e não me olharem como olham os outros mendigos pretos, quando vou vender minhas arte pra eles. ai pensei fuck off, será mesmo? ai comecei a pensar. minhas obras.eu minha vida. minha obra. e tive que aceitar. com vinte e dois aninhos de idade, em pleno nacioeleitoral 2018 @3c. ray cruz, aceita que dói menos. vou ser o primeiro performer do mundo a performar sobre a estigmatização que sofrem os usuários de crack, essa grande mazelatabu da saúde pública... o primeiro a performar fumando crack. e mangueando ao mesmo tempo
cobrando reparação histórica e chamando os brancos de racistana universidade pública. tudo isso ainda gravando um curta experimental e com vários artistas pretos fodas comigo. aceita que dói menos. eu sou um meme. eu sou um gênio. e pensei. malditos colonizadores e descendentes de colonizadores! vou reverter essa opressão ai. que nem diz aquele rap. ''nascido pela cena pra matar a cena''. vou apagar as luzes. vou anoitecer. vou empretecer. vou obumbrar. vou destruir a cena branca de arte em bsb e depois nas terras tupiniquins. depois no mundo. depois no espaço. porque o espaço é preto. declaro guerra intelectual à branquitude. porque luto com pensamentos e sentimentos eternizados em matrizes de papel. plástico. vidro e concreto. comecei a desenhar deve ter uns 7 dias, tô mandando muito. comecei a pintar, comecei a vender zines, ser agente e curador de minhas migas artistas,comecei a performar, comecei a manguear.... tudo recentemente e tô arrasando. vou abrir uma galeria em breve. comecei a me lembrar quando as pessoas me chamam de Basquiat do cerrado ou quando dizem que lembro ele. quando a pessoa eh preta, penso em representatividade. quando a pessoa eh branca penso e as vezes falo. Basquiat deu dois passos. mostrou que eh possível ser um artista preto autodidata, pobrgrafiteiro e enricar vendendo arte. soh que o Basquiat ficou rodeado de branco, se drogando, sem tentar retornar ao orun. eu não me recordode muitos quadros do Basquiat em que o voduu aparece como arcabouço semiótico. não me recordo de nenhum na real. vou além. vou resgatar o conhecimento e a sabedoria dos meus ancestrais, que os brancos roubaram de mim com o epistêmicidio. vou atrás da grana que tiraram da Mama África. afinal, função do pobre eh se adiantar. laroyê seu capa preta, tranca rua e zé pilintra, livrai-me da tentação do suicídio.tô ligado que nem eu disse no via crucis, que todos somos sobreviventes até a hora da morte. mas sei que a cada 23 minutos as estatísticas procuram minha pele retinta. e sei que suicídio é que nem assalto ao banco central. nào eh salvação. eh tentação. nego vai passar a vida toda querendo fazer. soh não faz porque sabe que vai se fuder. livrai-me oh maria mulambo, maria padilha e rainha de lúcifer, livrai-me de ser suicidado pela sociedade. curai-me obaluaiê. atotô. laroyê Èsú, exu ejh mojubá. por esse oriki que vou ganhar o nobel para joga-lo no lixo, dar pra uma moradora de rua preta do terceiro mundo e queimar a grana. toda não, uma parte vai pra doações. por isso no dia que eu me sentar na cadeira da academia brasileira de letras, na minha cerimônia de filiação, alguns momentos antes, eu provavelmente já idoso também de corpo, como já faz um bom tempo que sou de alma, vou abrir um buraco na cadeira, posicionar um penico em baixo, arriar as calças e perguntar para meus comensais: eai branquelos velhos, que tipo de merda vocês costumam excrevivissecar nessas cadeiras pouco ergonômicas?
ai ai, como disse o Mano Brown, EU QUERO EH MAIS, EU QUERO ATÉ SUA ALMA!'' e tento predicar: EU QUERO EH TUDO!

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